segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Última Parada 174

O diretor Bruno Barreto se apoiou numa história real para contar uma ficção. Pegou o público desprevenido. A história de Sandro do Nascimento, no imaginário popular brasileiro como protagonista de mais uma de nossas tragédias recentes merecia ser contada, mas não fantasiada. Fui ao cinema esperando que o filme respondesse a algumas perguntas. O filme respondeu, mas depois fico sabendo que a maior parte das coisas que vi lá é uma ótima ficção, criada pela cabeça do roteirista Braulio Mantovani.

Acreditei, ao ler as entrevistas do diretor, que o filme mostraria um outro ponto de vista ou outras histórias além do documentário "Ônibus 174" do José Padilha, diretor de Tropa de Elite. Bruno Barreto diz que o documentário do Padilha o instigou a filmar o Última Parada. O documentário do Padilha também me instigou a ver o filme do Bruno.

O filme é ótimo, mas receio que fui enganado porque 90% do meu interesse foi ver uma história real e conhecer mais de perto seus personagens. Agora não sei se as histórias que me tocaram aconteceram realmente ou não, impedindo assim que eu possa tirar alguma conclusão do acontecimento.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Capote

Entender um artista, suas mutações, suas loucuras e sua complexidade não é fácil. Assistir o filme "Capote" também não. Somos levados para dentro da cabeça desse personagem real que, na esteira do sucesso como escritor, tem a atenção chamada por uma dupla de criminosos que cometeram um brutal assassinato numa pequena cidade do Kansas.

Ele pega suas coisas e se muda para a cidade a fim de entrevistar os assassinos. O pior é que acaba desenvolvendo laços com os bandidos. Laços quase que afetivos. Conforme o escritor vai entrando na vida dos criminosos, vamos percebendo dois seres humanos e numa determinada altura não sabemos mais se continuamos a condená-los ou não. Perturbador!

A entrevista rende um livro e um questinamento: é ético ou não se apoderar da história das pessoas e ganhar dinheiro em cima delas? Será Capote um guardião da memória desses dois assassinos ou um usurpador?

Estou completamente convencido que Philip Seymour Hoffman, depois desse filme, entrou para a lista dos atores mais geniais que já tive a oportunidade de ver atuando. De uma figura pesada, lenta e de voz grossa, ele se transforma num homossexual leve e delicado. Coisas que só um grande ator conseguiria: se tornar completamente outro, sem deixar rastros de si mesmo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Com amor, Liza

Philip Seymour Hoffman é, para mim, um dos atores mais impressionantes do cinema americano, tendo lugar cativo na lista dos meus preferidos. Ele me chamou a atenção no Patch Addams, num papel pequeno, como colega de quarto do Robbin Williams. Fiquei encanado com o cara e fui atrás de filmes onde ele aparecesse mais. Pronto!


Indiquei "Capote" para um monte de gente que não concordou como sendo um grande filme. Explico. É uma grande atuação de Hoffman, pois ele sendo um cara pesado, lento e de uma presença espaçosa, interpreta um cara delicado, leve e completamente afeminado. Ator genial. Depois faço um post apaixonado sobre o Capote.


O filme de que falo nesse post, "Com amor, Liza" demorou três dias para ser digerido. Hoffman aqui é um webdesigner bem sucedido que vê sua vida desmoronar depois que sua esposa se suicida. Ele começa a desenvolver alguns comportamentos estranhos, cheirar gasolina e cria um apego quase doentio por aeromodelos. Sua esposa deixou um bilhete antes de morrer que ele não tem coragem de abrir e ler. Essas "últimas palavras" da mulher acompanha-o durante todo o filme. Enquanto isso, sua vida vai sendo destruída aos poucos: emprego, amigos, amores e tudo o mais.

Roteiro incrível e atuação perfeita (pra variar) do Hoffman, que retrata de uma forma assustadora como uma tragédia sem explicação pode trucidar um ser humano.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Os Reis da Rua

Achei que nunca ia acontecer, mas Keanu Reeves está envelhecendo. Certo, o personagem que ele faz nesse filme não é revolucionário como o Neo do Matrix. Tá, é um simples policial pacato e solitário que fica engajado em mudar a realidade ao seu redor depois que um "amigo" seu é morto. O caso é que toda essa aparente sem-graceza e sensação de que "já vi isso antes" não são suficientes pra deixar o filme descartável. A presença do ótimo Forest Whitaker e do novo velho Reeves conseguem prender nossa atenção. O roteiro é bom, os conflitos se resolvem com alguma surpresa e a fotografia é interessante. Certo, é um filme "esquecível", mas a cena em que Reeves encontra uma parede de dólares e discute com o seu capitão são ótimas e valem o preço do ingresso. São nessas horas que a gente entende por que um bom ator faz total diferença. Bons atores o diretor teve nas mãos para trabalhar, com certeza.
Ouvindo essa semana: Florescent Adolescent - Arctic Monkeys (http://br.youtube.com/watch?v=Xif2OeDYXEM)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Imagens do Além

Acompanhando a moda dos remakes de terror que o cinema americano tem feito nos últimos anos, o "Imagens do Além" traz para a tela alguns japoneses e faz justiça com os reais criadores dos últimos sucessos do gênero. Fico pensando: por que para nós ocidentais é tão difícil assistir o filme original? Por que tem que ser refeito? Será a barreira da língua, o tempo oriental ou a aparência dos povo amarelo? Será que tudo isso já não foi superado nos anos 80, quando fomos inundados com os seriados japoneses? Eu cresci vendo Jaspion, Jiraya, Jiban, era acostumado com os carros, com os prédios de Tókio, com as ruas e montanhas japonesas. Mas depois disso, nunca mais tive contato. Qual será o motivo desse jejum de produções originais da terra do sol nascente? Será que o Oriente não tem uma espécie de Freddie Mercury, um Morgan Freeman ou uma Fernanda Montenegro de olhos puxados para presentear o mundo? Será que um novo Kurosawa não está andando por lá e o mundo não sabe? Quem garante?

Bom. Deixa pra lá as divagações. O filme é legal e divertidíssimo para levar namoradas medrosas. Para olhos já acostumados com o estilo do "O Chamado" os sustos serão escassos, pois aquelas sacadas já estão ficando meio previsíveis. A mesma fotografia escura, a mesma musiquinha anunciando algum acontecimento iminente fazem o espectador adivinhar algumas cenas. A surpresa fica por conta da curiosa explicação racional para as aparições de espíritos em fotografias. Dia desses você vai se pegar pesquisando no google sobre o assunto, escreve aí.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ponto de Vista

Aproximadamente 30 minutos na vida de 8 personagens diferentes. 1 hora e pouco acompanhando o desenrolar de 30 minutos na vida de cada indivíduo. A idéia do filme "Ponto de Vista" é contar a história de um atentado sofrido pelo presidente dos EUA na Espanha. O telespectador acompanha o fato através do ponto de vista de cada um dos personagens principais. Tem de tudo: dois agentes secretos, dois bandidos, uma jornalista, um turista (interpretado pelo genial Forest "Último Rei da Escócia" Whitaker ) e uma menina mala que tem q ser salva pelo Forest o filme inteiro. A edição é um show à parte e o roteiro é brilhante, dado que a história, que é um rolo, vai se desenrolando sem nos enrolar. Quando isso acontece, o roteirista tem que ser ovacionado pois as coisas estão bem amarradas.

Não sei se o conteúdo será daqueles que permanecerão em nossa memória por décadas, mas a forma é indiscutivelmente bela.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Antes de Partir

Dois atores excepcionais, Morgan Freeman e Jack Nicholson, estrelam esse filme que não chegou a arrancar-me lágrimas (embora tivesse ido preparado para isso), mas rendeu algumas horas de reflexão. Volta e meia essas questões existenciais ocupam nosso tempo, seja com uma música, um filme, um e-mail, uma frase escrita num livro ou dita por um amigo. Diante da certeza da morte os dois personagens resolvem aproveitar o que ainda resta da vida e descobrem que viveram nesses poucos meses mais do que durante todos seus anos passados.

Há um ponto a se considerar aí. O que permitiu a eles aproveitar intensamente o mundo no final de sua peregrinação terrana foi o dinheiro do velho. A viagem ao redor do mundo foi proporcionada por muita, mas muitas grana. Estar no Egito, no Taj Mahal, nas Muralhas da China e em todos os lugares por que eles passaram é realmente maravilhoso, mas para poucos. O discurso é ótimo, a idéia de que "devemos aproveitar nossa vida como se fosse o último dia" é válida, mas o filme explorou um "aproveitar" caro e inacessível para a maioria dos mortais. Todos sabem que embarcar numa viagem ao redor do globo renderia muitos aprendizados e lembranças, quem não quer isso? Mas está ao alcance de todos? Desafio mesmo é bolar uma forma de reescrever esse filme e passar as mesmas lições sem deixar os personagens saírem dos seus bairros.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Juno

Ouvi dizer em algum lugar que foi indicado ao Oscar. Não vou checar a informação. Juno é um filme muito bonito, na mesma linha do Pequena Miss Sunshine. Esteticamente falando ele sai do convencional logo na abertura, onde um desenho animado se funde ao passeio da garota pela rua. As roupas, os cenários e o jeitão largado da menina me lembrou muito aquele seriado da década de 80: Punky (http://br.youtube.com/watch?v=f-j3P4_4k0I).
A história é sobre uma adolescente que engravida e resolve dar seu filho à um casal que terá mais condições psicológicas de criá-lo. Uma sacada esperta da menina, já que ela nem sabe no início do filme se é apaixonada pelo amigo que a engravidou. Achei o menino muito lerdão, mas depois me envergonhei desse pensamento porque vi que ele reagiria melhor do que eu na mesma situação. A menina é imatura, como qualquer adolescente, mas depois vemos que ela tem muita fibra e resolve à sua maneira todos os embaraços colocados pelos fatos. A família dela é muito gente boa, criando um ambiente favorável para as ações e decisões da personagem. Muito da força de Juno vem do apoio que seu pai lhe dá, já que ela fica rodando o dia inteiro com aquele carro e nunca vi ela parar num posto pra abastecer. E pagar! E olha que aquele utilitário que ela anda bebe muito!!!

O pior é que a família que ela pretende dar o filho não é muito mais madura e resolvida do que a dela. Portanto, o filho não terá uma mãe adolescente, mas se o ambiente adotivo será mais "normal" nunca saberemos. Saí do cinema com a impressão que o pai adotivo é sufocado por um casamento horrível e que o Pai de Juno seria muito melhor como referência masculina para a criança.

Sentido desse espaço.

Tudo que eu faço tem algum propósito escondido. Não vejo muito sentido em fazer coisas sem sentido. Quero aplicações práticas para as minhas ações. A aplicação prática desse blog é deixar registrado as impressões sobre os filmes que eu fui ver no cinema essa semana. Pode entrar nessa lista também a impressão que tive com algum DVD que aluguei, mas ultimamente estou indo mais ao cinema que alugando DVD´s, portanto terei mais material vindo dessas salas escuras. Para evitar que a memória me traia, faço uma anotação na contracapa. As horas que passei sendo escravo desses diretores renderão comentários. Esse blog é a contracapa dos meus filmes.