sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Capote

Entender um artista, suas mutações, suas loucuras e sua complexidade não é fácil. Assistir o filme "Capote" também não. Somos levados para dentro da cabeça desse personagem real que, na esteira do sucesso como escritor, tem a atenção chamada por uma dupla de criminosos que cometeram um brutal assassinato numa pequena cidade do Kansas.

Ele pega suas coisas e se muda para a cidade a fim de entrevistar os assassinos. O pior é que acaba desenvolvendo laços com os bandidos. Laços quase que afetivos. Conforme o escritor vai entrando na vida dos criminosos, vamos percebendo dois seres humanos e numa determinada altura não sabemos mais se continuamos a condená-los ou não. Perturbador!

A entrevista rende um livro e um questinamento: é ético ou não se apoderar da história das pessoas e ganhar dinheiro em cima delas? Será Capote um guardião da memória desses dois assassinos ou um usurpador?

Estou completamente convencido que Philip Seymour Hoffman, depois desse filme, entrou para a lista dos atores mais geniais que já tive a oportunidade de ver atuando. De uma figura pesada, lenta e de voz grossa, ele se transforma num homossexual leve e delicado. Coisas que só um grande ator conseguiria: se tornar completamente outro, sem deixar rastros de si mesmo.