domingo, 21 de março de 2010

Ilha do Medo


É interessante que justamente nessa semana, li numa Folha velha um artigo do Ferreira Gullar que, passou despercebido, mas depois notei que estava causando uma polêmica, com perdão da piada, insana. Cartas de repúdio no jornal, posts e debates na TV Brasil me fizeram parar pra prestar mais atenção ao tema.
O poeta ataca ferozmente a extinção das internações de doentes mentais em hospitais públicos. O artigo expôs o drama que é conviver entre pessoas nesse estado e da urgência em entender suas necessidades. Com tudo isso fervilhando na cabeça, caí de para-quedas na sala de cinema para assistir ao novo filme da dobradinha Scorsese/Di Caprio.

Cheguei alguns minutos atrasado sem saber sobre o que o filme tratava, só confiando minhas próximas horas de atenção a esses dois grandes artistas. Saí de lá perturbado. Com a mente em frangalhos. Me senti triturado por um liquidificador mental. A história de Teddy Daniels vai nos envolvendo durante todo o filme, para descobrirmos no final que nada é o que parece. Me lembrei na hora do filme "Sexto Sentido" e a reviravolta surpreendente que acontece no final. Também lembrei do "Bicho de Sete Cabeças", daquelas imagens revoltantes dos hospitais psiquiátricos, dos argumentos do Ferreira Gullar e dos defensores da Reforma Psiquiátrica Brasileira.

Estar durante algumas horas dentro da cabeça de um doente mental em tratamento é algo que nos faz refletir profundamente sobre o poder dos psiquiatras e a extensão da realidade. Se a realidade nada mais é do que a forma que o mundo é processado por nosso cérebro, médicos que tem o poder de manipular esse cérebro através de técnicas e medicações são os donos da realidade desses pacientes (prisioneiros?). E não há como negar que, dentro da loucura de cada um de nós, a realidade sempre será subjetiva.